quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Poemas de Carlos Robert Keis "Ô Chefe 45"


Quando meus netos estiverem grandes

e a morte me afastar do meu convívio,

talvez um deles se interesse um pouco

por cousas velhas e papéis inúteis,

e abre este livro, então. Rir-se-á talvez...

Mas é possível que em sua alma ecoem

atávicas ressonâncias...

e estes retalhos lívidos de sonho,

na paisagem nevoenta da saudade,

talvez palpitem cheios de ternura

no trêmulo murmúrio de uma bênção.

E teremos, então, vencido o tempo e a morte

e cantaremos como dois Irmãos...


Há um silêncio de morte nas ruínas

Desta velha tapera abandonada;

Nem os ecos de antigas cavatinas,

Nem a mais leve ressonância... nada.

Suavidades de mágicas surdinas

Diluídas na paisagem desolada...

Gorjeios de gargantas argentinas

Dormem no abismo da última alvorada.

Sobre o fúnebre manto do abandono

Passam asas vampíricas de sono,

Adejam sombras lúgubres de agouro...

Mas, vem o sol. Milagre que se opera:

Ressuscita o cadáver da tapera,

Põe-se a dançar amortalhado em ouro.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Lembro-me ainda dessas noites quentes,

Cheias de misticismo e sem luar.

As moças enlaçadas em correntes

Andavam lentamente a passear

E os rapazes em grupos nas esquinas

Calavam-se à passagem das meninas.

E estas, por sua vez, agradecidas,

Meio tímidas, meio comovidas,

Mandavam-lhes olhares penetrantes,

Varando a treva como negros fios,

Agudos, longos, úmidos, brilhantes

- Lâminas de aço ou dardos luzidios -

Dirigidos em cheio aos corações.

- Casas abertas, bem iluminadas,

Lançando à rua a luz dos lampeões,

Ostentavam insônias desusadas,

Inocentes orgias familiares

Só permitidas numa noite do ano,

Em que a alegria dominava os lares,

Revigorando a fé no peito humano.

Mais tarde... o sino vibra e se ilumina

Todo o interior da igreja centenária,

Há séculos de pé, sobre a colina,

Como uma sentinela solitária...

O sino da Matriz bimbalha alegremente...

Sobe pela ladeira acima toda gente

Em direção à igreja.

A encosta agora alveja

Em fileiras de luz,

Tremeluzindo em postes de bambus,

Em que se colocaram lamparinas,

Pequeninas,

Excitantes, bruxoleantes,

Lembrando um batalhão de esqueletos bizarros

Todos trazendo à boca, acesos, seus cigarros.

lembro-me ainda: Eu era pequenino.

Finalizada a Missa na Matriz,

Cada fiel seguia o seu destino,

Voltando à própria casa mais feliz.

E no semblante alegre das crianças

Perpassavam risonhas esperanças:

Na madrugada alegre que chegava,

Papai Noel, de certo, transportava

Brinquedos, guloseimas aos milhares

Para os sapatos todos dos seus lares...

O meu Natal foi sempre mais sereno.

Eu sempre compreendi, desde pequeno,

A humildade de nossa condição.

Por isso, nunca tive uma ilusão

Nessa noite de sonho e fantasia.

Bastava-me sentir, quando dormia,

(Bem mais feliz, talvez, então, eu fosse).

Uma carícia suave, muito doce,

Um beijo da mãezinha em minha face,

Como se um anjo sobre mim roçasse

As penas leves, brancas de sua asa

- Meigo Papai Noel de nossa casa!

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